Entenda como
as águas da transposição do Rio São Francisco vão chegar ao RN
Estado é o destino final do eixo
Norte da obra que tem objetivo de integrar a bacia do Rio São Francisco com
outras bacias que irrigam o sertão nordestino.
Obra de transposição do Rio São Francisco - Foto de
2019 — Foto: Divulgação/Ministério da Integração Nacional
Cerca de 13 anos após o início das obras de transposição, as águas do
Rio São Francisco devem chegar pela primeira vez ao Rio Grande do Norte nesta
quarta-feira (9), pelo município de Jardim de Piranhas, no Seridó potiguar.
O marco contará com
solenidade realizada pelo governo federal e presença do presidente Jair
Bolsonaro.
O estado é destino
final do eixo Norte da obra de transposição que tem objetivo de integrar a
bacia do Rio São Francisco com outras bacias que irrigam o sertão nordestino.
O projeto passou por
quatro gestões federais e ainda tem etapas a serem realizadas, como a
construção de um ramal que deverá levar água a toda a região Oeste potiguar,
inclusive Mossoró -
o Ramal Apodi.
Ao todo, a transposição já teria
custado cerca de R$ 14 bilhões. Segundo o governo federal, R$ 3,5 bilhões foram
investidos somente desde 2019 e representam cerca de 25% do total investido.
Até agora, não houve obra relacionada à transposição no território do
Rio Grande do Norte. A água do Rio São Francisco que chega pela primeira vez ao
estado entra no território potiguar pelo leito de um rio que já existia: o
Piranhas-Açu.
Após abertura das comportas na barragem Engenheiro Avidos
- em Cajazeiras (Paraíba) - onde a água da transposição chegou em janeiro,
a água passa pelo reservatório São Gonçalo, em Sousa, no mesmo estado, e se
mistura com o Rio Piranhas-Açu, entre os municípios de Pombal e São Bento.
Seguindo o curso do rio, finalmente a água vai entrar no Rio Grande do
Norte por Jardim de Piranhas, em um trecho localizado há cerca de três
quilômetros do centro do município seridoense.
Quando as águas entrarem no Rio Grande do Norte, deverão abastecer a
barragem Oiticica, em Jucurutu, e
seguir até a barragem Armando Ribeiro Gonçalves, em Assú.
Membro do comitê gestor da bacia hidrográfica Piancó-Piranhas-Açu,
Procópio Lucena comemora a transposição como um marco da engenharia brasileira
e calcula que cerca de 600 mil pessoas que moram no entorno dessa bacia
hidrográfica deverão ser beneficiadas com a chegada das águas ao Rio Grande do
Norte.
Por outro lado, ele considera que a obra ainda não está concluída e
ainda há muito que ser feito. Procópio apontou que o Piranhas-Açu ainda não
passou por uma revitalização, como previsto no projeto.
Rio Piranhas-Açu, pode onde a água da transposição do
Rio São Fransciso deve chegar ao Rio Grande do Norte — Foto: Procópio
Lucena/Cedida
Segundo ele, também não foram construídos os portais de entrada da
água - que permitem calcular a quantidade de água enviada. A informação é
importante, porque a água da transposição deve ser paga pelos beneficiados.
“Outra questão grave é a do saneamento e os lixões. Essa bacia
(Piranhas-Açu) tem 147 cidades (entre Paraíba e Rio Grande do Norte), sendo que
nem 15% tem saneamento. Estamos recebendo água ou esgoto?”, questiona o membro
do comitê gestor.
Procópio ressaltou que a entrada por Jardim de Seridó é
apenas uma das previstas pelo projeto da integração do Rio São Francisco e
considera que a outra, do Ramal do Apodi, ainda poderá levar anos para ser
concluída.
Mapa da transposição do Rio São Francisco (Arquivo) —
Foto: Aparecido Gonçalves/G1
"Esse projeto é debatido desde o Brasil Império. Começou no
governo Lula, passou por Dilma, Temer e Bolsonaro. Lula e Dilma entregaram
quase 90% do projeto de infraestrutura. Temer, entregou cerca de 3% e agora
Bolsonaro tem concluído mais alguns trechos, mas ainda não acabou. Falta o
canal Apodi, que tem 115 quilômetros de extensão. Eu acredito que ainda deverá
levar de quatro a oito anos para ser concluído", diz.
Na divulgação sobre o evento que
inaugura a chegada das águas, o governo federal informou que os Eixos Leste e
Norte estão concluídos e 100% em operação, mas não informou sobre obras
complementares.
O ramal do Apodi, citado por Procópio, teve a ordem de serviço para construção assinada por Bolsonaro em 24 de
junho de 2021, em visita a Pau dos Ferros, no Alto Oeste potiguar.
Segundo o governo, o ramal vai levar as águas do Eixo Norte a 54 municípios nos
estados do Rio Grande do Norte (32), Paraíba (13) e Ceará (9), atendendo 750
mil pessoas. O investimento é de R$ 938,5 milhões.
Segurança hídrica
A ideia é que as águas da transposição possam garantir
segurança hídrica. Atualmente, o rio Piranhas-Açu e os reservatórios estão
carregados de água, mesmo antes da chegada da transposição, mas o sertão
potiguar já viveu épocas mais difíceis.
Em períodos de seca ou de necessidade de maior oferta de água, o
estado poderá solicitar a entrada de água da transposição no Rio Grande do
Norte. A entrada de água da transposição não é continua. Vai acontecer se
acordo com solicitação de cada estado.
Entretanto, mesmo com o reforço dessa obra de grande porte, Procópio
considera que não basta que as águas cheguem aos grandes reservatórios: é
necessário que haja distribuição desse recurso.
“Agora mesmo, antes da chegada da água do Rio São Francisco, a
barragem Armando Ribeiro já tem cerca de 1 bilhão de metros cúbicos, mas é
necessário que haja um sistema de adutoras para que essa água chegue às cidades
e comunidades rurais que hoje estão carentes de água”, pontuou.
Custo da água
O custo da água também é outro ponto que preocupa os
envolvidos. De acordo com o secretário de Recursos Hídricos do Rio Grande do
Norte, João Maria Cavalcanti, a última estimativa de preço à qual o governo
estadual teve acesso era de R$ 0,73 por metro cúbico de água. De acordo com
ele, o estado tem buscado que o preço seja reduzido a R$ 0,32.
“Na verdade, esse projeto de integração da bacia do Rio São Francisco
com as outras bacias nordestinas é principalmente um projeto de desenvolvimento
econômico, porque essa água será comprada pelas empresas da agropecuária, da
indústria, para garantir o abastecimento de que precisam. É claro que será
usada também para o consumo humano, mas a gente tem dito que muita gente que
precisa dessa água não tem condições de pagar”, considera.
O secretário ainda contou que o RN elaborou o projeto Seridó, com uma
rede de adutoras que vai levar a água das grandes barragens abastecidas com a
água da transposição para toda a região potiguar, com 24 municípios.
A obra deverá ser executada pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São
Francisco e do Parnaíba, ligada ao governo federal.
Eixo Norte
Segundo o Ministério do Desenvolvimento Regional, a
última etapa de obra física de canais do Eixo Norte do Projeto de Transposição
do São Francisco foi o trecho da Barragem Caiçaras até o Reservatório
Engenheiro Avidos, entregue em outubro de 2021. Com isso, os dois eixos
estariam "100% operacionais" mas restam obras auxiliares.
No caso do Ramal do Apodi, o ministério reconheceu que o trecho fazia
parte do projeto original, mas disse que estava "abandonado".
"A obra estava prevista em 2004, mas, ao longo dos anos, foi
abandonada, apenas em 2021 o projeto saiu do papel. Outros dois projetos
originais retomados pelo Governo Federal foram o Ramal do Agreste, maior obra
hídrica de Pernambuco, que foi concluído em 2021, com 99% da obra e do repasse
de recursos executado pela atual gestão, e o Ramal do Salgado, no Ceará, cujas
obras já estão sendo licitadas", afirmou.
O Eixo Norte conta com 260 quilômetros de extensão, dos quais 155
quilômetros são de canais concretados. Foram construídas três estações de
bombeamento (EBI-1, 2 e 3) que vão elevar a água do Rio São Francisco em 188
metros de altura, que depois segue por gravidade por regiões de Pernambuco até
chegar aos estados do Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. Essa altura é
equivalente a um edifício de 62 andares.
Segundo o MDR, o Eixo Norte conta ainda com 15 reservatórios, oito aquedutos e
três túneis, sendo um deles o maior da América Latina para transporte de água –
o Cuncas 1.
Sobre a chegada das águas no Rio Grande do Norte, o MDR afirmou que a
água chega ao estado de forma bruta e, em parceria com o governo local, serão
realizados os investimentos para que ela chegue às casas das pessoas.
"Além disso, estamos contratando a Adutora do Seridó, que vai
permitir ampliar o benefício e o alcance da água do São Francisco. Quando as
obras complementares estiverem concluídas, mais de um milhão de pessoas em 77
municípios potiguares serão diretamente beneficiados", afirmou a pasta.
Credito: Igor Jácome, g1 RN
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