PGR defendeu descartar áudios e quebra de sigilo em investigação envolvendo gastos de Michelle Bolsonaro
Em manifestação, vice-procuradora-geral Lindôra Araújo solicitou ainda que material fosse retirado de inquéritos para os quais foi compartilhado
A vice-procuradora-geral da República, Lindôra Araújo, defendeu descartar áudios e quebras de sigilo bancário na investigação que apura pagamentos em espécie de despesas da primeira-dama Michelle Bolsonaro. Na manifestação, Lindôra ainda solicitou ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), a retirada desse material compartilhado com outros dois inquéritos e o arquivamento do caso. Essas provas foram coletadas pela Polícia Federal com autorização judicial para apurar se houve irregularidades nas transações realizadas por ajudantes de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro.
De acordo com a transcrição dos áudios de WhatsApp que constam na interceptação, Cid demonstrava preocupação de que o mecanismo de pagamentos em espécie fosse descoberto. O oficial foi preso, há dez dias, por suspeitas de participação em um esquema de inserção de dados falsos de vacinação contra a Covid-19 no sistema do Ministério da Saúde.
As conversas, reveladas pelo UOL e obtidas pelo GLOBO, mostram o temor de Cid de que os gastos em dinheiro vivo viessem à tona e fossem interpretados como um esquema de "rachadinha", a exemplo da investigação envolvendo o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) no Ministério Público do Rio. "É a mesma coisa do Flávio", disse Cid em áudio para uma assessora que trabalhava com a ex-primeira-dama.
Em janeiro, reportagem do portal Metrópoles já apontava o ex-ajudante como o responsável por pagar as contas do clã presidencial em dinheiro vivo. À época, Bolsonaro negou qualquer irregularidade.
A investigação conduzida pela PF apurou que Michelle usava um cartão de crédito vinculado à conta de Rosimary Cardoso Cordeiro, assessora parlamentar no Senado e amiga de longa data da ex-primeira-dama — ambas trabalharam como assessoras de deputados na Câmara.
Ao GLOBO, Rosimary afirmou que se tratou de “apenas um favor pessoal” e disse que o assunto “faz parte do passado”:
[O motivo do empréstimo do cartão foi] a amizade verdadeira desprovida de interesse e no momento do favor ela estava impossibilitada de ter o cartão, conversamos e decidi ajudá-la.
Procurados, os advogados Bernardo Fenelon e Bruno Buonicore, que representam Cid, informaram que, “por respeito ao STF, todas as manifestações defensivas serão feitas nos autos do processo”. Já Fabio Wajngarten, que representa Bolsonaro, afirmou que “os pagamentos de fornecedores informais, pequenos prestadores de serviços, eram feitos em dinheiro a fim de proteger dados do presidente". "Seria bom e justo incluir na matéria os valores encontrados. Seria bom também a matéria dizer como dados não relacionados ao que resultou na quebra telemática dos envolvidos foram publicitados. Não há nada de ilegal nas transações efetuadas", publicou, no Twitter.
Dentro do Planalto
As mensagens apontam ainda que Cid pagava com dinheiro vivo a fatura do cartão de crédito usado por Michelle, direto em uma agência do Banco do Brasil dentro do Palácio do Planalto. Nos áudios obtidos pela PF, duas assessoras de Michelle conversam com Cid sobre o pagamento das despesas da ex-primeira-dama. Elas tratam de um plano para convencê-la a mudar a dinâmica.
"Então hoje é essa situação do cartão realmente é um pouco preocupante. O que eu sugiro para você é o seguinte. No momento que você for despachar com ela, é esse assunto. Você pode falar com ela assim sutilmente, né? (...) Mas eu acho que você poderia falar assim: dona Michelle, que é que a senhora acha da gente fazer um cartão para a senhora? Um cartão independente da Caixa. Pra evitar que a gente fique na dependência da Rosy. E aí a gente pode controlar melhor aqui as contas (....). Pode alertá-las o seguinte, que isso pode dar problema futuramente, se algum dia, Deus o livre, a imprensa descobre que ela é dependente da Rose, pode gerar algum problema", diz Cintia Borba em áudio enviado à colega Giselle Nogueira em 30 de outubro de 2020.
Em outro áudio, Giselle conta a Mauro Cid ter conversado com uma pessoa próxima a Michelle — Adriana —, e que a ex-primeira-dama ficou "pensativa", mas que continuaria a usar o cartão de Rosimary. Mauro Cid responde o áudio de Giselle e cita o nome de Flávio Bolsonaro: "Giselle, mas ainda não é o ideal isso não tá? (o uso do cartão de Rosimary). O Cordeiro conversou com ela (Michelle), tá, também. E ela ficou com a pulga atrás da orelha mesmo: tá, é? É. É a mesma coisa do Flávio. O problema não é quando! É como deputado, rachadinha, essas coisas", respondeu.
Cid continua a explicação para Giselle: "Se ela perguntar pra você ou falar alguma coisa ou comentar, é importante ressaltar com ela que é o comprovante que ela tem. É um comprovante de depósito, é comprovante de pagamento. Não é um comprovante dela pagando nem do presidente pagando. Entendeu? É um comprovante que alguém tá pagando. Tanto que a gente saca o dinheiro e dá pra ela pagar ou sei lá quem paga ali. Então não tem como comprovar que esse dinheiro efetivamente sai da conta do presidente. O Ministério Público, quando pegar isso aí, vai fazer a mesma coisa que fez com o Flávio, vai dizer que tem uma assessora de um senador aliado do presidente, que está dando rachadinha, tá dando a parte do dinheiro para Michelle".
Mauro Cid ainda envia um terceiro áudio temendo que o caso se torne público: "E isso sem contar a imprensa que quando a imprensa caiu de pau em cima, vai vender essa narrativa. Pode ser que nunca aconteça? Pode. Mas pode ser que amanhã, um mês, um ano ou quando ele terminar o mandato dele, isso venha à tona", disse o ex-ajudante em novembro de 2022.
Créditos: O GLOBO - Paolla Serra — Brasília
Blog: ipanoticiais-neto camilo radialista
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